Gonzaguinha já cantava que a gente não tem cara de panaca nem tem jeito de babaca. Profetizava, como se fosse hoje, que a gente quer, com carinho, atenção e respeito, é ser um cidadão e viver, de pleno direito, uma nação.
Entretanto, e aproveitando a beleza de sua música “É”, continuamos expostos na janela. E a pergunta que não quer calar é a seguinte: Até quando?
O ato de “passar a mão” parece não ter fim. A corrupção no país está na ordem do dia do planeta. A podridão extravasou os limites do território nacional e passou a feder no mundo inteiro. Veja-se aí o Brasil no epicentro das falcatruas de um poderoso banco inglês em solo suíço.
Em paralelo, o brasileiro assiste diariamente aos novos capítulos da operação Lava Jato. Como nunca antes na história desse país, visualiza integrantes do clube bilionário das mega-construtoras nas páginas policiais de nossos jornais. Os corruptores presos sentem na carne o massacre da Polícia e do Ministério Público Federal, para não falar do juiz Sérgio Moro, na busca frenética pela recuperação das riquezas nacionais que foram, escandalosamente, surrupiadas de seu povo que não foge à luta.
Indiscutivelmente nossa República está doente e, ao que parece, o maior sequelado, o cidadão brasileiro, está a acordar do berço esplêndido da passividade e começa a entender as consequências de sua irresponsabilidade ou omissão no que diz respeito a política. Platão já dizia que “não há nada de errado com aqueles que não gostam de política. Simplesmente serão governados por aqueles que gostam”.
Nesse contexto, a tão só discussão a respeito do impeachment dá mostras claras de que o gigante está querendo se levantar. Pudera. A crise, sobretudo moral, que atravessamos chegou a níveis insuportáveis, quiçá atingiu o “volume morto” do orgulho nacional.
É chegada a hora de o país ser passado à limpo. O engajamento coletivo é arma letal contra a corrupção (também o é contra a dengue e o desperdício de água). Se o impeachment da presidente da República não se afigura viável do ponto de vista jurídico ou político, não podemos perder a chance de, a um só tempo, sedimentar a intolerância com a corrupção e escancarar que não mais serão aceitos estelionatos eleitorais. Isso, sem dúvida, não inibe o dever dos governos e governantes de assumirem seu papel e retribuir, à altura, a avassaladora carga tributária imposta aos viventes da terra adorada.
Nos próximos dias, ao que consta do anúncio feito pelo presidente da Câmara dos Deputados, será votada a tão aguardada reforma política. Estejamos atentos para não ocorrer o fenômeno do leopardismo mencionado pelo jurista Luiz Flávio Gomes: “pretende-se mudar tudo para que tudo fique como está”. Diz-se isso sobretudo porque o projeto de reforma política a ser votado pelo Congresso Nacional (PEC 352/2013) não contempla o fim das doações de empresas para as campanhas eleitorais, compactuando com a perversa promiscuidade entre o público e privado cuja representação máxima é o Petrolão.
Assumamos, pois, a responsabilidade de fiscalizar nossos representantes e deles exigir o que nos foi prometido. Iniciemos com a reforma política e, por que não, com a aprovação do Código de Defesa do Eleitor para coibir promessas demagógicas. Prometeu e não cumpriu? Ficou inelegível.
Para tanto, sigamos o conselho de Pedro Simon, honrado político brasileiro, que disse recentemente o seguinte: “Não esperem nada do Congresso. Só tem mudança com o povo na rua”.
artigo publicado no jornal Cruzeiro do Sul em 27-02-2015