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O jogo não terminou

A participação do cidadão na vida política do país não se esgota com o voto. Após a escolha dos representantes nos Poderes Executivo e Legislativo pelos próximos quatro (presidente, governador e deputados federal ou estadual) ou oito anos (senador), advém o segundo turno do exercício da cidadania, igualmente importante e que merece ser observado com idêntica responsabilidade por todos. 

Se a coisa é do povo (“res” pública, daí república), a este cabe o direito de fiscalizar aquilo que é seu. Tendo ou não votado naqueles candidatos que foram eleitos pela maioria (dito em regra pois existem exceções fruto do sistema perverso que proporciona a eleição de candidatos sem representação, eis aí o caso do cantor sertanejo Sérgio Reis conduzido ao poder em função da expressiva votação de Celso Russomano, ambos da mesma coligação), surge o dever coletivo na vigília da procuração outorgada aos políticos. 

Tão importante quanto a moralidade, tem-se a eficiência como princípio norteador da atuação dos detentores do poder de um modo geral. O controle sério e permanente sobre aqueles que são remunerados com o dinheiro público traduz instrumento hábil para diminuir o sentimento de impunidade e fomentar a eficiência na gestão da coisa pública. 

Nesse contexto, o amplo acesso aos meios de comunicação, dentre eles a internet, favorece a aproximação do cidadão às discussões políticas. Isso ficou evidente nas últimas eleições quando se constatou uma ânsia coletiva por reformas, sentimento extravasado em profusão, mas de maneira difusa. 

Nada obstante, o exercício responsável da liberdade de expressão, do direito de crítica e da oposição não deve arrefecer no período pós eleitoral. Ao contrário, deve ser incrementado e servir de estímulo àqueles que se julgam prejudicados com políticas públicas malsucedidas ou inconvenientes a efetividade do bem comum, a deixarem a inércia e manifestarem seu inconformismo de maneira democrática. 

Não só nos Estados Unidos, com a eleição de Barack Obama, foi possível constatar o fenômeno da comunicação direta com os eleitores pela via cibernética. No Brasil, as manifestações populares de junho de 2013 também são prova bastante de que o mundo virtual impacta no mundo real e pode muito bem inibir políticos de prosseguirem omissos ou de fazerem, conscientes ou não, o indesejável mal. 

Daí a importância do constante patrulhamento e da perene avaliação de desempenho dos políticos. Será tarde rediscutir essas questões por ocasião das próximas eleições e julgar, a partir da propaganda eleitoral, quem serão os melhores representantes do povo brasileiro. 

É tempo, pois, de vivenciar o segundo turno da cidadania não se esquecendo de ensinamento de genial nordestino, nascido no sertão de Alagoas. Dizia Graciliano Ramos que “é fácil se livrar das responsabilidades. Difícil é escapar das consequências por ter se livrado delas”. 

artigo publicado no jornal Cruzeiro do Sul, em 21-11-2014

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